Josué de Castro* (Recife, 1908
- Paris, 1973) écrit dans son oeuvre "Facteurs
de localisation de la Ville de Recife" que la ville
construite par les Hollandais pour desservir un port d'exportation
de sucre, a toujours vécu, depuis son origine,
attirée par deux pôles de séductions
opposées, par l'attraction de la vaste mer clairsemée
de caravelles et par l'attraction de l'ondulation de la
mer de plantations de canne éparpillées
dans les grandes plaines cultivées. La mer de sel
était la voie de communication avec le monde européen.
Monde cultivé, civilisé, le monde des idées,
érudit, idéalisé. Par la mer allait
le sucre et venaient les livres, vêtements, chaussures,
vaisselles, couverts, manuels de messe, de bonnes manières
et esclaves. La mer de canne, cultivée par les
mains métisses de noires africains et d'Indiens
du Brésil, fut aussi la voie pour le monde des
odeurs, des sensations, des échanges, de l'affect,
de la sensualité, de' oralité, de l'intelligence
des mains. La pensée pernamboucaine exprimée
dans l'art, dans la musique, dans la littérature,
dans la gastronomie, a toujours été marquée
par la présence de ces deux mondes. D'un monde
intellectuel, urbain, cosmopolite et d'un monde rural,
provincial, ingénu, autodidacte et détenteur
d'une esthétique fondée sur des héritages
ancestraux. En circulant librement entre ces deux mondes,
les artistes contemporains du Pernambouc - état
du nordeste brésilien, construisent leurs oeuvres
sans règles ou pudeur. Ils s'approprient les idées
du monde hégémonique universel, en même
temps qu'ils utilisent l'esthétique populaire présente
dans les rues et les foires, dans le travail quotidien
d'un peuple qui vie avec l'adversité du milieu,
créant des solutions de survie à chaque
instant. Séduits par deux sources apparemment opposées,
ils construisent une oeuvre particulière. Ils brodent,
tissent, utilisent des formes manuelles primitives, en
même temps qu'ils utilisent des technologies digitales
sophistiquées. Ils recréent des formes archaïques
dans des contextes modernes, utilisent vidéos,
photographies, créent des concepts ludiques, expérimentent.
Des savants anthropophages qui transforment cette grande
mélasse en une production riche et instiguante,
comprenant que ce qui intéresse ce n'est pas l'origine
de la source, si elle est érudite ou populaire,
mais la présence de l'intelligence humaine.
*Mort en exil à Paris, médecin,
enseignant, geographe, sociologue et homme politique,
Josué de Castro fut un pionnier de la réflexion
et de l'action contre la faim dans le monde.
Dois mares
Diz Josué de Castro* (Recife,
1908 - Paris, 1973) em sua obra "Fatores de Localização
da Cidade do Recife" que a cidade construída por
holandeses para servir a um porto de exportação
de açúcar, viveu desde suas origens, sempre
atraída por duas seduções opostas, pela
atração do vasto mar salpicado de caravelas
e pela atração do ondulado mar dos canaviais
espalhados nas grandes várzeas. O mar de sal era o
meio de comunicação com o mundo europeu. Mundo
cultivado, civilizado, o mundo das idéias, erudito,
idealizado. Pelo mar ia açúcar e vinham livros,
roupas, sapatos, louças ,talheres,manuais de missa
, de boas maneiras e escravos. O mar de cana, cultivado por
mãos mestiças de negros africanos e índios
brasileiros, foi também caminho para o mundo dos cheiros,
das sensações das trocas, dos afetos.,da sensualidade,
das histórias orais , da inteligência das mãos.
O pensamento pernambucano expresso na arte, na música,
na literatura, na gastronomia, foi sempre marcado pela presença
destes dois mundos. De um mundo intelectual, urbano, cosmopolita
e de um mundo rural, provinciano, ingênuo, autodidata
e possuidor de uma estética fundada em heranças
ancestrais. Circulando livremente entre estes dois mundos,
os artistas contemporâneos de Pernambuco, estado do
nordeste brasileiro, constróem suas obras sem regras
ou pudor. Apropriam-se de idéias do mundo hegemônico
universal, ao mesmo tempo em que usam a estética popular
presente nas ruas e feiras, nas obras do cotidiano de um povo
que convive com as adversidades do meio, criando soluções
de sobrevivência a cada minuto. Seduzidos por duas fontes
aparentemente opostas constróem uma obra particular.
Bordam ,tecem ,utilizam formas manuais primitivas, ao mesmo
tempo que usam sofisticadas tecnologias digitais. Recriam
formas arcaicas em meios modernos, usam vídeos, fotografias,
criam conceitos lúdicos, experimentam. Sábios
antropófagos transformam este grande caldo numa produção
rica e instigante ,compreendendo que o que interessa não
é a origem da fonte, se é erudita ou popular
, mas a presença da inteligência humana.
* Morto no exiíio em Paris, médico, professor,
geógrafo e político, Josué de Castro
foi um pioneiro na reflexão e na ação
contra a fome no mundo.
Bêtania Corrêa
Semaine
Thématique à l'École Supérieure
d'Art d'Aix-en-Provence art
contemporain / culture populaire
Depuis quelques années, des expositions
importantes accueillent des artistes venus de pays non occidentaux,
leurs procurant une reconnaissance internationale, se nourrissant
de l'énergie et de l'inventivité de leurs propositions,
ouvrant la scène internationale de l'art à des
acteurs qui en étaient jusque-là généralement
exclus. Il existait déjà, bien sûr, des
artistes reconnus issus de pays d'Amérique Latine ou
d'Asie - parfois d'Afrique. Mais cette reconnaissance se faisait,
en quelque sorte, à titre individuel et sous le régime
de l'exception, sans bousculer la hiérarchie qui opposait
les arts occidentaux aux pratiques populaires, sans renverser
le sens et la logique d'un regard marqué par l'histoire
coloniale. Le contexte en est profondément transformé
par la globalisation des communications et la transformation
des manières de penser, par les enjeux de la mondialisation
et le déplacement des frontières culturelles.
Alors même que des voix nombreuses s'inquiètent
de l'homogénéisation des modes de vie et de
l'imposition d'un ordre culturel unique, assujetti à
la logique marchande, l'espace s'ouvre à de nouveaux
regards qui interrogent l'effet de centralité par lequel
l'occident pouvait s'approprier le jugement de légitimité
des valeurs culturelles. La scène artistique ne fait
pas que s'ouvrir, elle devient l'arène de tensions
et de contradictions dans lesquelles se redistribuent les
identités et les singularités. Entre le recyclage
d'un effet d'exotisme ambigu ou l'entreprise médiatique
et l'affirmation d'imaginaires multiples, traversés
par des histoires et des héritages différents,
inscrits dans des contextes sociaux et culturels spécifiques,
les enjeux d'une culture peut-être sans frontière,
mais non sans contradictions ni sans fractures, se font jour
sur le terrain de l'art. À l'occasion des expositions
consacrées à des artistes brésiliens
à Aix-en-Provence, l'école supérieure
d'art consacre trois jours de rencontres, de conférences
et de débats à ces questions. Il s'agit à
la fois d'évoquer la spécificité de la
situation du Brésil et la richesse de sa création,
et d'élargir le propos sur la façon dont se
joue, sur le terrain de l'art et de la culture, les relations
entre pays riches et pays pauvres, entre art contemporain
et pratiques populaires, entre occidentalisation et diversité
des identités et des expressions.
Jean Cristofol
Conférences, documents,
films, vidéos et projets d'artistes : du mercredi 2
au samedi 5 Novembre Ecole Supérieure d’Art d’Aix-en-Provence
, rue Émile Tavan, 13090 Aix-en-Provence, tel 0442275735
Desde alguns anos, exposições
importantes acolhem artistas vindos de países não
ocidentais, procurando-lhes um reconhecimento internacional,
alimentando-se da energia e da criatividade das suas propostas,
abrindo a cena internacional da arte a atores que até
lá estavam geralmente excluídos. Existia, certo,
artistas reconhecidos procedentes de países da America
Latina ou da Ásia - às vezes da África.
Mas este reconhecimento fazia-se, numa certa medida, a título
individual e sob o regime da excepção, sem perturbar
a hierarquia que opunha as artes ocidentais às práticas
populares, sem inverter o sentido e a lógica de um
olhar marcado pela história colonial. O contexto esta
sendo profundamente transformado pela globalização
das comunicações e pela transformação
das formas de pensar, pelos desafios da mundialização
e do deslocamentos das fronteiras culturais. Agora mesmo que
vozes numerosas se preocupam da homogeinização
dos modos de vida e da imposição de uma ordem
cultural única, sujeitada a uma lógica mercantil,
o espaço abre-se a novos olhares que interrogam o efeito
de centralidade pelo qual o ocidente podia apropriarse do
julgamento de legitimida de valores culturais. A cena artística
não faz so abrir-se, torna-se arena de tenções
e de contradições nas quais redistribuem-se
as identidades e as singularidades. Entre a reciclagem de
um efeito exótico ambíguo ou a empresa mediática
e a afirmação de imaginários múltiplos,
atravessados por histórias e heranças diferentes,
inscritos em contextos sociais e culturais específicos,
os desafios de uma cultura talvez sem fronteira, mas não
sem contradições nem sem fraturas, fazem-se
dia sobre o terreno da arte. Pela ocasião das exposições
dedicadas à artistas brasileiros em Aix-en-Provence,
a escola superior de arte consagra três dias de encontros,
de conferencias e debates a estas perguntas. Trata-se ao mesmo
tempo que se fala da especificidade da situação
do Brasil e da riqueza da sua criação, de alargar
o propósito sobre a forma como jogam, sobre o terreno
da arte e da cultura, as relações entre países
ricos e países pobres, entre arte contemporânea
e práticas populares, entre ocidentalização
e diversidade de identidades e expressões.
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de presse]